sexta-feira, 9 de março de 2012

ARTE ROMÂNICA



No início da Idade Média, a arte ficou ligada à da época Paleocristã, influenciada profundamente, pelo cristianismo. Os valores da religião cristã irão, igualmente, impregnar todos os aspectos da vida medieval. Deus é o centro do universo, e a medida de todas as coisas. A igreja, como representante de Deus na terra, tinha poderes ilimitados. 
                                         

O feudalismo era a nova ordem da sociedade de então, enquanto o Sacro Império se afirmava politicamente. A arquitectura, de início, não diferenciava, formalmente, palácios de igrejas, devido ao facto de o imperador, de alguma forma, representar tanto o poder religioso como o temporal.
 
                                            

É a Igreja que centralizará o controle sobre o pensamento e a vida da época, criando dessa forma, a primeira unificação da arte da Europa, desde a queda do Império Romano. Até então a arte era difusa e diferente entre os variados povos europeus.


                                            

Essa unificação só virá a ocorrer a partir da segunda metade do século XI e no início do século XII com o aparecimento e expansão do estilo românico. Uma maior estabilidade política é, então, acompanhada de um lento mas significativo crescimento demográfico. 

                               

Simultaneamente desenvolvem-se, na Europa, dois fenómenos decisivos para a compreensão do desenvolvimento da arquitectura românica: o monaquismo e o culto das relíquias, a que estão associadas as peregrinações.
                                   

Com a fundação do Mosteiro beneditino de Cluny, na Borgonha, em 910, dá-se um ponto de viragem na história do monaquismo ocidental. O poder deste Mosteiro contribuiu para a consolidação de alguns princípios de unidade, que estão na base da linguagem artística comum à Europa de então, ou seja, a arte românica.
O culto das relíquias e as peregrinações ultrapassaram o simples fenómeno religioso. Revelaram-se factores de intercâmbio e de partilha de conhecimentos, transformando-se em agentes da criação artística.
As peregrinações, ligadas à ideia de “perdão dos pecados” criaram um crescente entusiasmo religioso. Para que uma igreja fosse considerada um lugar de peregrinação, ela deveria possuir as relíquias de algum santo, ou seja, seus restos mortais ou parte deles, ou algo que lhe tivesse pertencido.

Os beneditinos, logo após as primeiras reformas monacais, foram os primeiros a propor nas suas construções as formas originais do românico que aparece sob a ascendência do romano antigo com a fusão dos estilos pre-românicos, e influências bizantinas e orientais. 
 
A arte românica proclamava o triunfo da igreja, convertida no tronco de união entre os reinos cristãos recentemente criados e impulsionadora de uma unidade supranacional

As peregrinações fizeram disseminar o românico, na Europa, através de igrejas, mosteiros e outras construções. Estas ficavam no caminho para os locais sagrados, como Santiago de Compostela, Roma e Jerusalém, serviam de apoio e pousada para os peregrinos, além de oferecer como atractivo as relíquias e ofícios litúrgicos.


Arquitectura: No final dos séculos XI e séc. XII até inícios do séc. XIII, na Europa, desenvolve-se a arte românica cuja estrutura era semelhante às construções dos antigos romanos. 
As características mais significativas da arquitectura românica são:
- Abóbadas em substituição ao telhado das basílicas.

- Pilares maciços e paredes espessas com contrafortes.

- Aberturas raras e estreitas usadas como janelas.

- Torres, que aparecem no cruzamento das naves ou na fachada.

- Arcos de meia volta (180 graus).









A primeira coisa que chama atenção nas igrejas românicas é a sua monumentalidade. Elas são sempre construções austeras e robustas, uma vez que uma das suas principais funções era resistir a ataques de exércitos inimigos. Daí serem chamadas: fortalezas de Deus.

Surge assim, uma arquitectura abobadada, de paredes sólidas, com colunas terminadas em capitéis cúbicos, que se distancia, mas mantém ligação com os rústicos castelos de pedra que davam sequência à linha pós-romana.

Na pintura e na escultura, as formas mantêm-se dentro da mesma linha da arquitectura, severa e pesada, completamente afastadas de qualquer intenção de imitar a realidade e conseguindo, como resultado, uma estética dotada de certa graça infantil.

Uma explicação aceite para as formas volumosas e duras dessas igrejas é o fato da arte românica não ser fruto do gosto refinado da nobreza nem das ideias desenvolvidas nos centros urbanos, mas um estilo essencialmente clerical.

As igrejas seguiam a planta em forma de cruz latina, com várias nave , geralmente 3 ou 5, em que as naves laterais se prolongavam e passavam por detrás da abside, formando o deambulatório de onde saiam as capelas radiantes.

Estas igrejas eram dotadas para receber grandes multidões e procissões, pelo que havia a necessidade do deambulatório, que permitia o decorrer normal de várias cerimónias simultaneamente com as procissões a passar por trás do altar.

Os mosteiros foram importantes para o estabelecimento da arquitectura românica, principalmente os das ordens de Cluny e Cister. Desse conjunto característico, a dependência a se destacar é o claustro, por ligar o mosteiro ao templo e por ser a dependência mais bem cuidada do ponto de vista artístico. Geralmente possuem quatro lados, com tendência a formar quadrados perfeitos, e quatro corredores resultantes em pórticos abertos com arcadas sustentadas por colunas.

Foi o factor religioso, mais do que qualquer outro, que contribuiu para a europeização e difusão dos elementos que permitem definir o conceito de românico, embora haja edificações de carácter profano, civil e militar, de grande importância no desenvolvimento e afirmação da arquitectura românica.

Apesar da barbárie e do primitivismo que reinaram durante essa época, pode-se dizer que o românico estabeleceu as bases para a cultura europeia da Idade Média.


Românico em França
























Românico inglês







Românico alemão




A Itália não acompanhou a actividade arquitectónica desencadeada pela França. A herança estilística da influência antiga clássica, bizantina e muçulmana foi explorada ao máximo: continuaram a usar a cúpula alteada, campanários e baptistérios separados, revestimentos de mármore no exterior e uma decoração miudinha. 
A torre é separada da igreja e a fachada é ordenada com colunatas e arcarias cegas.


Românico italiano 














O românico toscano tem influência muçulmana e bizantina: a cobertura é de madeira, e a planta é como a das basílicas paleo-cristãs. A fachada é viva, volta-se para a praça, tradição romana da vida pública na rua. 
Na Itália, o românico difere do resto da Europa, pois não apresenta formas pesadas, duras e primitivas.


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

ARTE VISIGÓTICA – ARTE PRÉ ROMÂNICA



Depois da queda do império romano, mongóis, vândalos, suevos, alamos, francos e germânicos, entre outros povos conhecidos genericamente como bárbaros, avançaram definitivamente sobre a Europa. A Europa entrou assim num dos períodos históricos mais obscuros, entre a religiosidade dos primeiros cristãos e a beligerância dos novos senhores.

Este período histórico, conhecido como Alta Idade Média, é caracterizado pela ruralização da sociedade (em oposição à "urbanidade" clássica), por uma economia quase auto-sustentada e de fraca movimentação de trocas comerciais, pelo quase desaparecimento da cultura laica e pelo domínio cultural do clero e, por fim, pela enorme expansão da igreja cristã.

Os traços culturais próprios destes povos, dos povos conquistados e o cristianismo, estiveram na origem de uma arte que se situa entre a arte da antiguidade clássica tardia e o românico e que, por esse motivo, se denomina como pré-românica, não designando um estilo particular.

A arte pré-românica é caracterizada por uma absorção de diversas influências que resultam nas fusões inovadoras entre elementos da cultura clássica com elementos cristãos e germânicos. Não se restringe a uma região específica, mas espalha-se por toda a Europa ao longo vários séculos, destacando-se alguns géneros artísticos próprios.

A Arte visigótica é aquela que designa as expressões artísticas criadas pelos visigodos, que entraram na Península Ibérica em 415 e se tornaram o povo dominante da região, até à invasão dos mouros, em 711. Este período da arte ibérica notabilizou-se pela arquitectura, e ourivesaria.

Os mais significativos dos poucos exemplares sobreviventes da arquitectura visigótica do século VI, em território português, são a Capela de São Frutuoso em Braga e a Igreja de São Gião na Nazaré.

Capela de São Frutuoso de Montélios perto de Braga

Interior da Capela de São Frutuoso de Montélios

Interior da Capela de São Frutuoso de Montélios

Capela de S. Gião - Nazaré
Relevo da Capela de S. Gião - Nazaré
A ourivesaria visigótica desenvolveu-se, essencialmente, em Toledo e é composta principalmente de jóias com motivos geométricos, que foram encontrados em escavações de tumbas.
Tesouro de Guarrazar - Coroa de Recesvinto


Tesouro de Guarrazar - Coroa de Recesvinto - detalhe

O século VIII conheceu, porém, a primeira grande tentativa de reunificação da Europa, a criação do 
Império Carolíngio, sob Carlos Magno. 
Carlos Magno foi a figura política mais poderosa da Alta Idade Média, pois os seus exércitos assumiram o controle de extensos territórios. Carlos foi responsável pela imposição do cristianismo e pelo ressurgimento da arte antiga. 
Este foi coroado, pelo papa, em 800, como imperador do Sacro Império Romano que englobava quase toda a Europa Ocidental.

Estátua de Carlos Magno. O cavalo teria sido reaproveitado de uma estátua clássica
Após sua coroação, tornou-se grande patrono das artes.
A arte carolíngia refere-se à arte do período de Carlos Magno, estendendo-se pelos seus sucessores (entre 780 e 900 d.C.) e alargando a sua influência ao período posterior da arte otoniana.

Esta arte tem uma forte herança germânica, absorve elementos das artes bizantina e islâmica, mas inspira-se na arte romana da Antiguidade Clássica daí ser também conhecida como renascimento carolíngio.

A sua expressão arquitectónica vai incidir na construção religiosa caracterizada por pinturas murais, pelo uso de mosaicos e baixos-relevos surgindo também neste momento a igreja com deambulatório, tipologia que se irá desenvolver ao longo da Idade Média. Uma das mais significativas construções deste período é a Catedral de Aix-la Chapelle (Aachen) na Alemanha.



Interior  da Capela de Aix-la-Chapelle com o deambulatório 


Cúpula da Capela Palatina de  Aix-la-Chapelle

Púlpito da catedral, com painéis de marfim bizantino e inserções de vidro islâmico. um dos painéis representa o deus pagão Baco.

Trono de Carlos Magno na Capela Palatina  de  Aix-la-Chapelle
Os mosaicos da Capela Palatina de Carlos Magno são parecidos com os das primeiras igrejas cristãs de Ravena e Constantinopla. Sabe-se que naquela época, muitas colunas e mármores foram trazidos de Roma para as construções do seu império.

Mosaicos do interior da Cúpula da Capela de Aix-la-Chapelle. Vêem-se as colunas vindas de Roma.
Mosaicos do interior  da Capela de Aix-la-Chapelle 
As artes decorativas assumem também um lugar de relevo, especialmente no que diz respeito à produção de marfins, joalharia e iluminuras, sendo estas últimas caracterizadas por um traçado extremamente dinâmico.
Coroa de Carlos Magno


Frontispício dos Evangelhos de Lindau. C. 870.
Ouro, pedras preciosas e esmalte.


Busto de Carlos Magno

Marfim - capa dos Evangelhos de Lorsch, cerca de 810 

Iluminura, São Mateus Evangelista, c. 800


Mateus redigindo o "seu" Evangelho.
Iluminura de um manuscrito francês dos Evangelhos de Ebbo. séc. IX.



quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Alhambra


Em nenhum outro lugar como na Alhambra, o esplendor da civilização árabe brilha tão intensamente.

Enquanto a Europa procurava, lentamente, organizar-se, no início da Idade Média, a magnificência árabe florescia.




A Alhambra está localizada num planalto estratégico, com vista sobre toda a cidade de Granada e campos à sua volta.

Trata-se dum rico complexo de palácios e fortaleza (alcazar ou al-Ksar) que alojava o monarca da Dinastia Nasrida e a corte do Reino de Granada.



O seu elemento mais ocidental é a alcáçova (cidadela); uma posição fortemente fortificada. O resto do planalto é ocupado por vários palácios, cercados por uma muralha defensiva, com diversas torres, algumas defensivas e outras destinadas a proporcionar vistas panorâmicas aos seus habitantes.

Este importante conjunto monumental exibe os mais famosos elementos da arquitectura islâmica em Espanha. Mistura elementos naturais com outros feitos pela mão do homem, sendo um testemunho da habilidade dos artesãos muçulmanos da época.

O abastecimento de água é feito através dum canal com 8 km de comprimento, que traz a água do rio Darro.

A maior parte do complexo foi construído, principalmente, entre 1248 e 1354, nos reinados de Ibn-al-Ahmar e dos seus sucessores; a Alhambra é um reflexo da cultura dos últimos anos do reino nasrida, sendo um local onde os artistas e intelectuais procuravam refúgio.

O complexo do palácio foi desenhado para aquele lugar montanhoso, havendo uma perfeita sintonia entre as construções e o ambiente.

A Alhambra foi sendo acrescentada pelos diferentes soberanos muçulmanos que residiram no complexo, no entanto, cada nova secção que foi sendo acrescentada seguia o plano de construir o "Paraíso na Terra". Arcadas, colunatas, fontes com água corrente e tanques reflectores foram usados para aumentar a complexidade estética e funcional. O exterior foi deixado plano e austero.

O seu verdadeiro atractivo, como noutras obras muçulmanas da época, são os interiores, cuja decoração está no cume da arte islâmica.
















Por todo o palácio, as paredes, tetos, chão, portas e janelas foram cobertos com padrões decorativos.











Podem visitar-se: salas totalmente decoradas de cima a baixo, com tetos de madeira esculpida, gesso a formar "estalactites", azulejos de diversos padrões, placas de gesso moldadas nas paredes e janelas com gelosias a lembrar filigrana; pátios ao ar livre com fontes e cursos de água, borbulhando como um oásis no deserto; jardins exuberantes e água, água por toda a parte.

Água – o bem tão raro e precioso na maioria do mundo islâmico - o mais puro símbolo da vida é usado profusamente na decoração da Alhambra: em lagos, fontes, repuxos, por todo o lado ela flui, gotejando, correndo, misturando os seus murmúrios no ambiente.








A Alhambra é também um local de poesia, pois na sua decoração entra a caligrafia, de versículos do Alcorão e outros poemas adequados aos diversos locais. É, mesmo, possível em sentido literal “ler a Alhambra” descobrindo o verdadeiro sentido da arquitectura palaciana dos nasridas.






Poetas muçulmanos descrevem a Alhambra como "uma pérola encastrada em esmeraldas", em alusão à cor dos seus edifícios e à dos bosques que os rodeiam.







Todo este extraordinário conjunto envolve o visitante num ambiente etéreo, de fantasia quase mágico.